Greve de Ventres
Foto: Rosa e Clara Zetkin / Dietz Verlag / Fundação Rosa Luxemburgo
Contribuição para o debate feita em 22 de agosto de 1913 durante reunião social-democrata no espaço de eventos Neue Welt, em Berlim[1]
Com base num relato jornalístico
Não falo como médica ou pregadora moral, mas simplesmente como social-democrata. O que menos ouvi aqui hoje foram palavras sobre o nosso objetivo final, nossa estrela-guia. A reunião de hoje é um exemplo vergonhoso do grau de desleixo da conscientização em Berlim, já que uma palavra de ordem como a do Dr. Moses[2] desencadeou tanto aplauso. Chega-se a pensar que Marx e Lassalle pregaram à toa na Alemanha!
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Schulze-Delitzsch, apóstolo das cooperativas de crédito e eliminado por Lassalle em poucos anos, foi um gigante comparado aos apóstolos da greve do ventre[3] – pelo menos, apelava para uma ação social conjunta, enquanto aqui se buscam os meios na intimidade do quarto de casal (manifestações de alegria e gritos de “muito bem”). Apela-se à preguiça intelectual e à miopia das massas (“Bravo!”, “Oh!”).
Querem recusar ao militarismo as vítimas a quem hoje se pede para que atirem no pai e na mãe. Os senhores acreditam que seria possível melhorar a sina de um único trabalhador com a greve do ventre? Dessa maneira, só se melhoraria a sina dos não-nascidos. Acontece que lutamos pelos vivos e não por aqueles que não podem nascer graças aos conselhos do Dr. Moses! (risos). Não nos deixemos distrair da verdadeira grande luta! Onde estavam as imensas massas que hoje estão aqui reunidas quando, há poucos meses, a ordem era combater o militarismo? (“Escutem só!”) “Há na terra pão suficiente para todos os homens”! disse Heine[4], e, para concretizar esse ideal, não bastam pequenos truques, e sim apenas o caminho claro da luta de classes política e econômica. Qualquer tentativa de desvio desse caminho deve ser combatida com toda a energia como tentativa reacionária de emburrecer as massas (muitos aplausos).
Leipziger Volkszeitung, nº 197, 26 de agosto de 1913[5]
[Tradução: Kristina Michahelles]
[1] Publicado em Gesammelte Werke 7/2, Berlim, Dietz, 2017, p.769-70. Artigo de número 557 na bibliografia de Rosa Luxemburgo feita por Feliks Tych (1962). Também consta em cópia nos documentos arquivados no fundo 209, registro 1, nº 156 no RGASPI de Moscou para novos volumes das Obras completas editadas por Clara Zetkin e Adolf Warski e retrabalhados por Paul Frölich, dos quais só apareceram três volumes nos anos 1920.
[2] Em numerosas reuniões populares e partidárias o Dr. Moses defendeu que as mulheres proletárias deveriam apoiar a luta da classe trabalhadora recusando-se a fornecer soldados ao Estado ou trabalhadores ao capital – ou seja, uma limitação do número de nascimentos no proletariado.
[3] Franz Hermann Schulze-Delitzsch (1808-1883), economista burguês, cofundador do Partido Progressista Alemão (Deutsche Fortschrittspartei) e membro da Associação para Política Social (Verein für Socialpolitik).
[4] Heinrich Heine: Alemanha, um conto de inverno (Deutschland. Ein Wintermärchen. In: Heinrich Heine, Werke und Briefe in zehn Bänden [Obras e cartas em dez volumes], org. Hans Kaufmann, v. 1, Berlim e Weimar 1980, p. 436.
[5] O mesmo artigo saiu no Bremer Bürger-Zeitung, nº 206, de 3 de setembro de 1913. O Vorwärts (Berlim) publicou uma versão abreviada no nº 218, em 24 de agosto de 1913.