Vida de Rosa
Rosa Luxemburgo nasceu em 5 de março de 1871, em Zamość, pequena cidade no sudoeste da Polônia sob o domínio do Império russo. Era a quinta filha de Lina Löwenstein e Elias Luxemburgo, uma família judia emancipada e culta.
Em 18 de março de 1871, é criada a Comuna de Paris. A experiência de autogoverno popular durou 72 dias. A ação foi barbaramente reprimida. E marcou profundamente a geração revolucionária seguinte.
Com a proximidade da visita do imperador alemão a Varsóvia, em 1884, Rosa, então com 13 anos, escreve este poema antimilitarista:
Por fim te veremos, poderoso do Ocidente
Isto é, caso venhas ao Jardim da Saxônia Pois eu não visito vossas Cortes.
Na verdade, a mim nada me importam vossas honrarias.
Mas gostaria de saber o que tagarelam ali.
Com os “nossos” deverias ser tratado por “tu”.
Em coisas de política sou ainda uma ovelhinha boba,
sobre isso não quero falar muito contigo.
Só gostaria de dizer-te uma coisa, querido Guilherme:
‘Diz a esse teu patife astuto Bismarck
Faz isso pela Europa, imperador do Ocidente,
ordena-lhe que não suje as calças da paz’”.
Em 1885, é assinado o Tratado de Berlim. Reino Unido, Império austro-húngaro, França,Império alemão, Reino da Itália, Império russo e Império otomano determinam a partilha colonial do mundo.
Em 1886, ainda no colégio, Rosa participa de um grupo de estudantes secundaristas, universitários e trabalhadores próximos ao “Proletariat” (Proletariado), organização clandestina que luta pelo socialismo.
Após dois anos de agitação, Rosa está a ponto de ser detida pela polícia imperial russa. Para evitar isso, foge de Varsóvia cruzando a fronteira com o Império alemão, escondida num carro de feno, refugiando-se na Suíça.
Em Zurique, estuda na universidade, a única de toda a Europa que aceita mulheres. Se matricula em zoologia e técnicas laboratoriais e de microscopia.
No semestre seguinte, abandona as ciências naturais, tema pelo qual sempre foi apaixonada, e passa a assistir a aulas de economia, filosofia e direito.
É abolida a lei que proíbe o Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) em 1890.
Em 1893, com 22 anos, funda – com Leo Jogiches, Julian Marchlewski e Adolf Warski – a Social-Democracia do Reino da Polônia (SDKP).
O líder socialista belga Emile Vandervelde recorda Rosa em sua primeira aparição pública no Congresso da Internacional Socialista em Zurique, em 1893:
“Rosa, que então tinha 23 anos, era, com exceção de alguns círculos socialistas da Alemanha e da Polônia, uma desconhecida… Todavia recordo como saltou entre a multidão dos delegados, subindo numa cadeira para que a escutassem melhor … Pequena, magra, delicada em seu vestido de verão, que ocultava habilmente seu defeito corporal, defendeu sua causa com palavras veementes”.
Em 1897, Rosa defende seu doutorado sobre o desenvolvimento industrial da Polônia. Um ano depois, muda-se para Berlim, onde passa a militar na social-democracia alemã (SPD).
Em 1898, publica O desenvolvimento industrial da Polônia, versão revista de sua tese de doutorado. Muda-se para Berlim e conhece as principais figuras do SPD: August Bebel, Paul Singer, Wilhelm Liebknecht e Karl Kautsky, entre muitos outros.
Constrói uma grande amizade e companheirismo, que durará a vida inteira, com Clara Zetkin, importante quadro do partido e lutadora incansável pelos direitos da mulher.
Reforma social ou Revolução?
Em 1899, ganha projeção no meio marxista alemão com a publicação de uma série de artigos contra o teórico socialista Eduardo Bernstein, amigo pessoal de Engels, reunidos no livro Reforma social ou revolução?
Nesse livro, até hoje bastante conhecido e difundido, Luxemburgo questiona os argumentos de que o capitalismo se desenvolvera a ponto de impedir as crises inerentes à sua natureza, o que permitiria transformações estruturais mediante simples iniciativas institucionais e pacíficas.
Durante dez anos, entre 1904 e 1914, Rosa Luxemburgo representa a Social- Democracia do Reino da Polônia e Lituânia (SDKPiL), como passa a se chamar a organização após 1900, no Bureau socialista internacional em Bruxelas.
Em 1904, participa do Congresso da Segunda Internacional Socialista em Amsterdã. Assim que volta a Berlim, fica três meses na prisão acusada de insultar publicamente o imperador da Alemanha, Guilherme II.
No mesmo ano, publica Questões de organização da social-democracia russa, polemizando com as posições ultracentralistas de Vladimir Lenin.
Em 22 de janeiro de 1905, manifestantes se dirigem de forma pacífica ao palácio do tzar, em São Petersburgo,para entregar uma petição. São recebidos a tiros, com o saldo de mais de mil mortos e inúmeros feridos. Explode a revolução na Rússia e surgem pela primeira vez os sovietes (conselhos).
Greve de massas, partido e sindicatos
Em dezembro de 1905, viaja clandestinamente para Varsóvia a fim de colaborar com a revolução russa iniciada em janeiro. Em março de 1906 é detida junto com Leo Jogiches. Sob ameaça de ser executada, passa quatro meses na prisão por participar nas revoltas populares de Varsóvia.
É libertada em julho graças a uma fiança do SPD e vai para Kuokkala, um povoado da Finlândia próximo de São Petersburgo, para acompanhar de perto os acontecimentos revolucionários.
Ali discute com Lenin e redige Greve de massas, partido e sindicatos, obra na qual esboça uma interpretação original do processo revolucionário na Rússia reivindicando a espontaneidade das massas.
Na volta a Berlim, sua defesa da greve de massas como instrumento de luta política contra o capitalismo já ocupa lugar central em suas intervenções políticas e teóricas.
Nesse texto Rosa critica o quietismo e a atitude conservadora dos sindicatos alemães e do SPD, sem deixar de lado a necessidade de criar instâncias de auto-organização popular.
Contra a guerra
Em 1907, volta à prisão por dois meses (de 12 de junho a 12 de agosto) por conta de seus discursos públicos antimonárquicos e a favor da ação direta.
Em agosto do mesmo ano, no Congresso da Internacional em Stuttgart defende a manutenção e o fortalecimento da solidariedade do proletariado europeu contra a guerra, a qual presume cada vez mais próxima.
Os crescentes gastos militares dos impérios europeus, o conflito de interesses intercapitalistas, a pressão das nacionalidades e os conflitos operários tornam iminente o desenlace de uma guerra na Europa. É a época conhecida como da “paz armada”.
Formação política
Entre 1907 e 1914, leciona na escola de quadros do Partido Social-Democrata Alemão, faz reflexões pertinentes sobre a prática pedagógica popular, para que ela se torne intelectualmente frutífera.
Assume os cursos de História Econômica e Economia Política. Rosa é a única mulher no corpo docente, situação que muitas vezes também vive dentro do partido.
É deste período A acumulação do capital (1913), obra em que demonstra a urgência histórica da dissolução do capitalismo.
Em setembro de 1913, em uma assembleia em Frankfurt, Rosa se proclama de maneira incisiva contra a guerra iminente. A justiça imperial a detém por “instigação à desobediência das leis e contra as disposições da autoridade”.
Julgamento
Em fevereiro de 1914, começa seu julgamento em Frankfurt, com o advogado Paul Levi como seu defensor. Sua poderosa defesa durante o processo torna-se muito popular entre os trabalhadores.
Juntamente com companheiros de partido, como Clara Zetkin e Karl Liebkbnecht, articula, em 1914, o Grupo Internacional em protesto à aprovação de créditos de guerra por parte da social-democracia alemã, convertida aos esforços militares e nacionalistas do período.
28 de julho de 1914
Começa a guerra na Europa. Os países se dividem entre potências centrais: Alemanha; Áustria-Hungria; Bulgária; Império otomano. E Tríplice Entente: Inglaterra; França; Império russo. Rapidamente o conflito se propaga pelas colônias de todo o mundo. Em cinco dias de batalha contam-se cerca de 200 mil mortos e 330 mil feridos. Quatro anos depois, o saldo é em torno de 10 milhões de mortos e 20 milhões de feridos.
Acusada de agitação antimilitarista, fica presa durante um ano (fevereiro de 1915 a fevereiro de 1916). Sai da prisão num estado de saúde precário. É esperada por centenas de mulheres trabalhadoras que a recebem com flores e aplausos.
Na prisão, escreve A crise da social-democracia (concluído em abril de 1915 mas publicado um ano depois), ajuste de contas contundente com seu partido, o SPD, com a Internacional Socialista e com o proletariado alemão, por terem aderido à política de união nacional em torno do imperialismo das classes dominantes. A partir desse momento a palavra de ordem adotada por Rosa Luxemburgo é: socialismo ou barbárie!
Em 1916, como protesto contra a grande perda de soldados na frente oriental, em toda a Rússia há levantes e greves contra a guerra e o tzar. Os marinheiros se amotinam duas vezes, uma no Mar Báltico e outra no Mar Negro.
É novamente detida em julho de 1916 (“prisão de segurança militar”). As autoridades militares consideram Rosa um perigo para a segurança pública.
A Revolução Russa
Fevereiro de 1917
Começa a Revolução Russa. Tem início o levante armado dos trabalhadores em Petrogrado. O tzarismo é derrubado. Instala-se o governo provisório liberal de Aleksandr Kerenski.
Abril 1917
Lenin regressa de seu exílio na Suíça e pressiona o partido bolchevique para que prossiga com a revolução.
Outubro de 1917
Revolução de Outubro. Assalto ao Palácio de Inverno. É derrubado o governo provisório. Lenin assume a presidência, cria o Conselho dos Comissários do Povo e decreta a abolição das grandes propriedades de terra. Em março a Rússia sai da guerra.
Em setembro de 1918, Rosa escreve na prisão notas que serão publicadas no final de 1921 com o título A Revolução Russa. Trata-se de um artigo visionário e muito crítico sobre pontos centrais como reforma agrária, autodeterminação dos povos, democracia e terror de Estado: “Liberdade é sempre a liberdade de quem pensa de modo diferente”.
Rosa é libertada em novembro de 1918. Vive clandestinamente em Berlim e dirige “A Bandeira Vermelha”, jornal oficial do spartakismo. Dias depois redige o programa O que quer a Liga Spartakus?
Em 9 de novembro de 1918, o imperador abdica e é proclamada a República em Berlim. Assume o governo provisório do social-democrata Friedrich Ebert. Termina a guerra.
Em dezembro de 1918, no congresso dos conselhos em Berlim triunfa a ala conservadora do SPD, dirigida por Ebert. O governo se lança abertamente a criar milícias (Freikorps) para derrotar a revolução.
Na virada de 1918 para 1919, Rosa participa da fundação do Partido Comunista da Alemanha (KPD). Em virtude da política conservadora do governo de Ebert, irrompe uma insurreição armada em Berlim que se estende por 10 dias. O levante é fortemente reprimido.
Logo que escrevem seu último artigo A ordem reina em Berlim e Apesar de tudo, Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht são detidos e assassinados em Berlim por soldados de uma das milícias criadas pelo governo social-democrata.
Ambos são assassinados em 15 de janeiro de 1919 por tropas do governo. Rosa tinha 48 anos. Rosa Luxemburgo é enterrada no cemitério de Friedrichsfelde em 13 de junho de 1919, junto a Leo Jogiches, Karl Liebknecht e muitos outros mortos na insurreição de janeiro. O cortejo fúnebre se converte em uma poderosa manifestação.
Um monumento em homenagem a Rosa foi inaugurado em 13 de junho de 1926, realizado com base num projeto de Mies van der Rohe, arquiteto da escola Bauhaus.
Em 1935, o monumento é destruído por nazistas. Os corpos de Rosa Luxemburgo, Karl Liebknecht e outros desapareceram.
Tantas Rosas em uma
Rosa Luxemburgo é uma personagem multifacetada, com um rico perfil que vai muito além da militância revolucionária e da política partidária.
Feminista, enfrentou o ambiente machista e patriarcal da social-democracia alemã; se posicionava a favor dos interesses das mulheres trabalhadoras, contrapondo-os aos das mulheres burguesas.
Talentosa no desenho e na pintura, Rosa Luxemburgo se entregou de corpo e alma a esse ofício por algum tempo, e o resultado poderá ser conferido aqui.
Sua ligação profunda com a natureza a leva, nas cartas da prisão, a fazer descrições detalhadas e poéticas de plantas, pássaros, nuvens, e a reflexões que mostram, com grande sensibilidade, como se sentia ligada a todas as formas de vida.
Também não podemos esquecer o herbário quase profissional que foi fazendo ao longo dos anos.